Livro Aberto

LIVRO ABERTO

A poesia é um território perdido entre o "sentir" e o "expressar". É um convite para visitar sentimentos e humanizar a pressa. É um território de se reinventar!

Muitas são as formas de expressar e definir poesia. Aqui estaremos apenas compartilhando nossas tentativas de explorar esse território desconhecido em que a "estrada" é construída com emoções.

Vocês, alunos, pais, professores, funcionários e amigos da EDEM, estão convidados a compartilharem suas poesias durante a semana literária. Elas só precisam ser de sua autoria!

Envie sua poesia para o email emtempo@ymail.com

Lembre-se de informar seu nome e de explicitar a sua relação com a escola.

Participem...Aguardamos suas poesias!

Equipe de organização da Semana Literária da EDEM

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terça-feira, 18 de outubro de 2011

MANU,ELA

Ela era Manuela.
Isso que era ela.
Só isso, não.
Tinha sido Manu, quando pequena como um grão.
Que se o nome é selo caro, o apelido é carinhoso,
de um gostar bem gostoso.
Chi, mas como ela implicava.
Manu, ela não gostava.
Logo brigava com quem assim a chamava.
Falava pelos cotovelos.
Xingava pelos tornozelos.
De tanto bater o pé, sabe como é que é,
além de Manu, virou Nué.
E mesmo que você não acredite,
se tornou Manuela-Bronquite.
Sei que soa esquisito.
Mas espere que eu explico.
Enquanto a turma com apelidos brincava,
ela bronqueava tanto que tossia e se engasgava.
E cada vez mais danada
da sua vida mal humorada.
Um dia, Benedito, o Bené,
a chamou de Manuscrito, até.

Só que agora Manuela
não é só o que era.
Virou Manuela Aurês
- professora de português.
Tome título e sobrenome.
Mas, como antes, Dona Manuela Aurês,
vejam bem aí vocês,
continua implicante.
Não deixa ninguém ir ao banheiro.
Chegando na classe, pega o giz e logo diz:
“Desde agora quem falar vai dando o fora”.
Todo aluno anda mudo.
Manuela é quem sabe tudo.
Tuto tudo tudo tudo.
Escolhe a uva do Ivo.
E pra quem vai ler,
o nome do livro...

Até que no último feriado,
a turma bolou um plano.
Eu, que sou discreto, não conto.
Foi um plano secreto.
Mas digo que todo o tempo
a turma passou catando bagulho.
Botão, barbante, algodão.
Papel, tinta e pincel.
Caixa, caixinha, caixote.
Pra cima e pra baixo, cada um com seu pacote.
Meninos e meninas batiam,cortavam, cosiam.
Colavam, refaziam, remendavam...
Ao entrar na sala na volta à aula,
Manuela Aurês esfregou os olhos
e cobriu as mãos com o rosto.
Em vez do bom-dia de sempre,
o que ela ouviu foram zurros.
Em vez das caras de sempre,
viu trinta caras de burro.
Burros de cartolina.
Com olhos azuis de confete.
Topetes de serpentina.
Sobrancelhas de purpurina.
Burros de papel crepom.
Com crinas de couro marrom.
Burros de isopor.
Com belas orelhas de flor.
Burros de brim.
Com dentes de cetim.
E vê se pode:
havia até um cor-de-burro-quando-foge.
Manuela, enfezada,
foi fazer a chamada.
Mas não é que a cada nome que dizia
era um zurro a resposta que ouvia?
Até que perdeu a calma
e suspendeu a aula.
Esperneando pelo corredor
foi chamar o diretor.
Falando pelos cotovelos.
Xingando pelos tornozelos.
Fez tamanha barulheira
que voltou com a escola inteira.
Aluno, professor, inspetor e servente.
Olhando as caras de burro.
E as trinta caras de burro
olhando pra toda gente.

Cesar Cardoso (Do livro Manu,Ela - poemas infantis, lançado pela Editorial Nórdica e esgotado.)

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